A filha Thais com sua família tradicional: pai, mãe e filhos |
Zé e seus irmãos olhando com gula o porco paraguaio
Netos, a sobremesa da vida
Sempre
me intrigou o fato de Jesus ter realizado o seu primeiro milagre em uma festa,
transformando água em vinho. E foi muito vinho, o que poderia embebedar muita
gente...
Até
que assisti a um belo sermão do padre Olimar, na catedral de Santa Terezinha.
Ele explicou que a festa, com sua fartura e aparente inutilidade, é uma
necessidade da vida humana e uma afirmação de dias melhores. A vida foi feita
para ser festa, não para ser sofrimento ou mesquinharia. E Deus é um Pai
alegre, que gosta de alegrar o coração dos homens. O milagre foi realizado em
uma festa de casamento, na união entre duas vidas e Deus, para começar uma
família. Deveria então haver alegria, mas o vinho acabou. Fez um paralelo com
as bodas atuais, onde frequentemente o vinho também falta e a alegria
desaparece da união. O vinho do desejo, da afeição, do respeito e da
compreensão passa a faltar nas taças do casal. Mas se existir Jesus na relação,
a água do cotidiano pode ser novamente transformada em vinho. O milagre do
recomeço se inicia com a oferta do que se tem e o vinho do final talvez seja
melhor que o vinho do começo. Rezou então pelos casais felizes que passeiam de
mãos dadas e por aqueles que separam as mãos e as vidas. Pelos casais que se
beijam e se abraçam em amores e por aqueles que se agridem em ciúmes. E
abençoou as famílias.
Ainda
sobre a família, li um livro interessante, " O arroz de Palma", de
Francisco de Azevedo. Conta a história de uma humilde família portuguesa que chegou ao Brasil cheia
de sonhos. O narrador é Antônio, filho do casal imigrante e Palma é sua tia.
Muito pobre, ela juntou o arroz espalhado no chão da igreja no dia do casamento
do irmão, abençoou-o e presenteou o casal.
O arroz serve de fio condutor da história da família, em seus dramas,
conflitos e alegrias. Antônio se transforma em talentoso cozinheiro e dono de
restaurante. Compara a família a um prato difícil de preparar. E não precisa
ter vergonha de chorar quando se coloca alho e cebola, pois família é prato que
emociona. E a gente chora de alegria, de raiva ou de tristeza. Ensina que
temperos exóticos alteram o sabor do parentesco, mas que se misturados com
delicadeza, tornam a família mais colorida e interessante. Também é preciso
cuidado com as medidas, uma pitada a mais pode ser um desastre, pois família é
prato sensível. E saber meter a colher
na hora certa é verdadeira arte, pois
pode desandar a receita toda. É bobagem pensar que existe receita de família
perfeita. Não há "Família à Belle
Meunière" nem "Família ao Molho Pardo", nas quais o sangue é
ingrediente fundamental. Família é afinidade e tem que ser "À moda da
casa". E cada casa gosta de preparar a família a seu jeito. Há famílias
doces e outras amargas. Algumas apimentadíssimas e outras sem gosto, tipo
"diet', que a gente suporta só pra não perder a linha. É prato a ser
servido quente, quentíssimo, pois família fria é impossível de se engolir. Mas
é preciso saber a hora certa de apagar o fogo, pois há famílias inteiras
queimadas por causa de fogo alto. O autor conclui que receita de família não se
copia, se inventa. E deve ser saboreada ao máximo, passando o pão naquele
molhinho que fica na louça, pois família é prato que quando se acaba, nunca
mais se repete.
A
não ser que, como disse o padre Olimar, se houver Jesus na família, é possível
um recomeço com os ingredientes que se tem. E quem sabe, inventar uma receita "À
Moda da Casa" mais saborosa que a inicial.