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Certa vez cai no golpe das ciganas que vendiam
grossos colares de ouro trançado, mas que não eram de ouro coisíssima nenhuma.
E pouco tempo atrás cai no golpe do mico. Como tive notícias de que o larápio
continua agindo, resolvi divulgar o caso. Sei que muitos vão pensar que fiz
papel de tola, mas é porque não conhecem o larápio. Ele é ardiloso, insistente, envolvente, astuto. E
talvez um pouco louco, pois fica agressivo e ameaçador se a gente não concorda
com ele.
Tudo começou numa bela manhã, com o interfone tocando.
Era um senhor de meia idade, claro, mais pra gordinho, camiseta vermelha e
calças jeans, bem aparentado. Disse que tinha um macaquinho de estimação, o
Kiko, que andava com ele pra todo lado,
no seu ombro. E que o mico tinha pulado quando passavam na calçada da
minha casa e estava
em cima do telhado. Do passeio, o homem assobiava e chamava " Kiko,
Kiko". Nisso, apareceram dois dos meus netinhos, atraídos pela confusão, e
todos ficamos olhando pra cima. Um disse que estava mesmo vendo o mico. Começamos
a chamar e nada. O homem então pediu para eu abrir o portão para ele entrar no
jardim e chamar mais de perto, pois o mico só atendia a ele. Com pena do
macaquinho, acabei abrindo. O homem chamou algumas vezes e depois foi entrando
resoluto e determinado pela casa adentro, afirmando que o mico já devia estar
no quintal e que iria procurar por lá. Em uma das mãos, carregava um saquinho
de ração (ainda bem que não era um revolver). Atrás dele, a minha cachorrinha
york latindo freneticamente, eu e os dois netinhos ajudando a procurar. Na sala
de TV o Zé, meu marido, assistia a um noticiário e não percebeu nada (devia
estar cochilando). Depois do quintal, o homem subiu as escadas para os quartos
com o cortejo atrás, olhando tudo e fingindo ver o macaquinho. Eu indignada,
mandando ele sair e avisando que ia chamar meu marido e a polícia. Ele ficou
agressivo, dizendo que eu não queria ajudá-lo a encontrar seu bichinho. Só saiu
quando quis, não estava nem um pouco intimidado com o cortejo. Fiquei pasma e
boquiaberta com o ocorrido. Passado um
tempo, o interfone tocou novamente. Eram minhas duas vizinhas, com os olhos
arregalados. Vieram confirmar se um homem tinha entrado na minha casa para procurar
o Kiko. Ele tinha entrado lá também, com a mesma história e procurou o Kiko até
dentro das gavetas. Ficamos as três impressionadas, mas ele não roubou nada.
E agora, recentemente, uma amiga que mora no meu
bairro, Lídice, contou-me a mesma história. Ele entrou na casa da vizinha e
roubou o laptop quando ela, a vizinha, foi no quintal ver se o Tito estava lá.
Ele só trocou o nome do mico e agora chega de moto, está mais sofisticado. A
minha amiga tem câmera de segurança, que filma a rua toda e vi a filmagem. Nela, o mesmo larápio safado sai
rapidamente carregando o laptop, sobe na moto e foge, um filme de ação...
Bem, este é apenas mais um golpe que circula por ai,
ao lado, por exemplo, do bilhete premiado. Conheço uma pessoa que caiu nesse
golpe e perdeu um bom dinheiro. E na época do Natal, tem o golpe do
envelope, quando aparece gente estranha para
recolher o envelope com o dinheiro dos lixeiros e dos varredores de rua, mas já
estou esperta nesses casos.
Em tempos de crise, é preciso redobrar a
vigilância, pois provavelmente surgirão golpes mais mirabolantes do que o do Kiko (ou Tito).
E sempre existirão pessoas como eu para acreditar...