Casal de joão-de-barro construindo o ninho |
Fêmea de louva-a-deus devorando a cabeça do macho |
Casal homossexual de leões |
Sempre
que caminho em um clube, converso com um funcionário troncudinho e gentil. Dia
desses, estava ele envolvido na observação de um casal de joão-de-barro
construindo o ninho. Fiquei observando também. Um deles chegava com a pelota de
barro no bico, colocava na parede do ninho, o outro vinha e alisava o barro, se
revezando. O ninho estava quase pronto, na forma de um forno e com uma portinha
caprichada. O funcionário comentou que o casal de joão-de-barro é muito fiel um
ao outro e que, se o macho for traído pela fêmea, que voa até uma grande altura
e depois despenca do alto, se esborrachando no chão. Ou seja, um suicídio por
desgosto amoroso. Uma amiga entrou na conversa e disse que não era assim, que na verdade o macho traído fechava a
porta do ninho e prendia a fêmea lá dentro. Eu disse que isso devia ser lenda,
pois imagina se a fêmea ia ficar quietinha dentro do ninho, esperando durante
uns dois dias o macho pegar cada
pelotinha de barro para tampar a entrada e prendê-la. Ainda mais que o
joão-de-barro é considerado um pássaro
inteligente...
Não
encontrei na literatura nada que confirmasse nem o suicídio, nem o instinto assassino
do joão-de-barro. Mas existem muitos fatos comprovados e interessantes sobre o
comportamento sexual dos animais. Como no caso do louva-a-deus e do leão. A
malvada fêmea do louva-a-deus pratica o canibalismo sexual, uma forma de predação
em que a fêmea devora o macho na cópula. Quando ainda estão realizando o ato
sexual, a fêmea, que é maior que o macho, começa a devorâ-lo pela cabeça,
pedacinho por pedacinho, com suas potentes mandíbulas. Isso porque precisa de
proteínas para amadurecer seus ovos e já começa a aproveitar as do macho,
coitado. Um caso típico de macho perdendo a cabeça pela fêmea. Mas existem
invertebrados mais espertos, como em espécies de aranhas onde o macho é bem
menor que a fêmea. Ele pode ser confundido com uma presa se chegar muito
depressa, afoito demais para copular. Assim, o macho leva uma presa de presente
para a fêmea e enquanto ela come a presa, ele copula. Depois, sai rapidinho. Melhor dar um presente
do que ser devorado.
Quanto
ao leão, o rei dos animais, ele é um dos muitos exemplos de espécie onde existe homossexualidade.
Machos abandonam as fêmeas disponíveis para formar seu próprio grupo homossexual.
O biólogo canadense Bruce Bagemihl, no livro "Biological exuberance:
animal homosexuality and natural diversity", com 750 páginas resultantes de
dez anos de pesquisa, cita o comportamento homossexual cientificamente
documentado de cerca de 300 espécies de mamíferos e pássaros. Entra essas, o
leão. E outras como pinguins machos, que tentam roubar o ovo de casais
heterossexuais; galos-da- serra com comportamento gay devido à
alta densidade populacional e enorme competição pelas fêmeas; girafas machos
jovens que formam pares homossexuais temporários, para treinar técnicas de
acasalamento; baleias brancas machos em brincadeiras eróticas que sugerem uma
orgia; macacas japonesas que se tornam agressivas quando tentam separar o casal
de fêmeas. O biólogo deixa claro que é muito variado o repertório sexual
encontrado na natureza e que não podemos estabelecer conexões entre animais e
seres humanos.
Quando
comentei com meu irmão grandalhão, com alma de criança, o comportamento
homossexual dos leões, ele reagiu indignado e boquiaberto, falando desanimado: -"Mas
não é possível, até o leão? " Pois é, até o leão.