A vaca Indiana Canvas 2R no dia em que venceu o torneio leiteiro |
Fiquei encantada com a
vaca Indiana Canvas 2R, de Uberlândia, que foi destaque na mídia como
recordista mundial na produção de leite. É uma vaca de elite, simpática, da
raça Girolando, branca com grandes manchas pretas, com tetas enormes e ubre gigantesco.
Foi campeã de torneio leiteiro, produzindo 115,20 kg de leite num único dia, um
exagero (leite suficiente para alimentar um bezerro por uns 30 dias, eu penso).
Ela é tratada como rainha: toma três banhos por dia, tem veterinário,
nutricionista e três pessoas que cuidam dela o dia todo, a um custo de oito mil
por mês. Mas o retorno financeiro é certo, com a venda de crias e embriões.
Pensando na Indiana, famosa e rentável, lembrei-me de
outra vaca, também branca e preta e da mesma raça. Desconhecida e simples, mas
uma mãe extremada. E brava, muito brava. Tive contato com ela recentemente, num
encontro breve e inesquecível.
Esse encontro aconteceu na fazenda de um amigo, nas
proximidades da cidade. Fomos, em turma, fazer um churrasco em família.
Enquanto pais, mães, tias e amigos comiam e bebiam, tive a genial ideia de
levar a criançada ao curral para passar a mão nos bezerrinhos. Éramos eu e mais
sete crianças, com idade de dois a 11 anos. Passamos pela porteira que dava
para o pasto, andamos um pouco e nos aproximamos do curral. Nisso, eu vi uma
vaca, que estava solta no pasto, trotando rápido na nossa direção e bufando
furiosa. Escavava o chão com os cascos, sacudia as tetas na corrida e estava
pronta para nos chifrar. Apenas gritei: -"gente, a vaca!" A meninada
debandou rápido em direção à uma cerca de arame liso que existia nas
proximidades. As duas netinhas de três anos endureceram e tive de arrastá-las.
Quando chegamos até à cerca, as duas entalaram no arame (ainda bem que era
liso, não era farpado). Algumas crianças conseguiram se empoleirar no alto e o
netinho de dois anos, pequenino e esperto, passou por baixo da cerca. A turma
toda gritava a plenos pulmões:- "socorro, alguém me ajude", mas
ninguém escutava. E a vaca vindo, cada vez mais perto.
Tudo isso aconteceu em segundos. Num ato heroico, com
as pernas trêmulas, dei as costas para a vaca, para proteger as crianças (fazer
o que). Fiquei de olhos fechados, esperando a chifrada ou cabeçada, pois, na
verdade, na confusão e desespero, nem sei se a vaca tinha chifre. Mais alguns
segundos e nada. Criei coragem e olhei para trás. Milagre! Fomos salvos pelo
amor de mãe (um amor que salva vidas). A vaca, na sua corrida desenfreada,
passou perto do curral, que estava entre o pasto e a turma encurralada. A mãe
amorosa viu seu bezerrinho, parou a corrida e se aproximou para protegê-lo de
nós, os intrusos. Alívio geral.
Como esse, existem muitos casos interessantes
envolvendo sentimentos de proteção demonstrado por animais. Como o caso recente
de Karina Chikitova, uma menina de três anos, que ficou perdida durante 11 dias
em uma floresta da Sibéria. Ela saiu de casa com seu cachorro e se perdeu em um
local habitado por ursos. Sobreviveu comendo frutas e bebendo água do rio.
Depois de nove dias, o cachorro voltou para casa e guiou equipes de resgate até
o local onde a criança estava. Inacreditável esse comportamento animal...
Enfim, aprendi uma lição: nunca, mas nunca mesmo, se
deve passar a mão em bezerrinhos recém nascidos, por mais cativantes e fofinhos
que eles sejam, se a mãe, a vaca, estiver por perto. Mesmo se o bezerrinho for de
vacas famosas e de elite como a Indiana.