Sissy dormindo no meu sapato |
Duda |
Sissy e Duda |
A Duda é a minha cachorrinha
yorkshire de três meses. Quando estou no computador, ela fica mordiscando os
meus pés, arrancando o fio da tomada e
roendo minhas sandálias havaianas. Ou então, dando saltos na outra
cachorrinha york, a Sissy, também de três meses, mas de outra ninhada. Ela é
minúscula, um projeto de cachorro, insignificante, sem presença nenhuma. A Duda
finca os dentes com força no pescoço dela e a arrasta pelas perninhas, tenho
que socorrer. Quando a situação está muito tensa, prendo a Duda em algum local
e ela late baixinho e unha a porta, é dramático.
Comprei as duas porque
estava muito triste com o desaparecimento da Mel, minha companheira de oito
anos e realmente um doce. Não sabia qual escolher e resolvi ficar com as duas
para decidir depois. O problema é que a Duda ficou gigante e destrambelhada,
mesmo tendo pedigree e ter custado caro. Mas ela rói os tênis do Zé, meu
marido, e outros pertences dele; rola nas plantas do meu jardim e escapa como
flecha pro meio da rua. O Zé só a chama de doidona, coitadinha. E a Sissy ficou
tão pequena que nem existe. Todos pensam que são mãe e filha, mas mãe nenhuma
faria o que a Duda faz com a Sissy. E para agitar mais, a netinha de três anos,
Maíra, que adora as cachorrinhas ao seu jeito, inferniza a vida delas. Espreme
a Sissy, sacode, joga a Duda pra cima, mistura milho, pedrinhas e feijão cru na
ração, deita na caminha delas. E se é repreendida, chora copiosamente.
Por tudo
isso, o Zé anda nervoso e quer que eu dê um sumiço na Duda. Mas não tenho
coragem de dar, nem de vender, nem de emprestar. Dai, resolvi negociar. Tive
uma ideia genial: poderia dar a Duda para uma amiga que gosta de cachorros. Eu
poderia visitá-la sempre e trazê-la para passear aqui em casa. Quando ela fosse
reproduzir, eu cuidaria de tudo e ficaria com dois filhotes, para cobrir os
investimentos e a trabalheira. Entusiasmada, contei ao Zé a solução encontrada
e ele comentou que a Duda seria um presente de grego, que eu não podia fazer
isso com uma amiga. Ou seja, arrasou com a Duda e com minha ideia genial.
Assim, a confusão continua. Pensei
então na heterogeneidade das famílias atuais, pois ao lado do clássico modelo
de avós, pais e filhos, existem vários tipos. Tem família com vários filhos de casamentos
anteriores, pais homossexuais com filhos, avós com filhos-netos, só mãe e
filhos, só pai e filhos, etc. Como os conflitos fazem parte da natureza humana,
deve haver muita confusão em todas elas. Se acrescentar dois cachorros e uma menininha
espoleta, complica mais ainda. Lembrei-me novamente do caso do bode: existia
uma família imensa, com pais, filhos, sogra, tios, sobrinhos, cachorros e
gatos, todos juntos em uma pequena casa. O pai, não suportando mais, foi pedir
conselho a um padre, que o orientou a colocar um bode dentro de casa. O homem
ficou horrorizado, mas assim o fez. O bode destruía tudo, chifrava as pessoas,
defecava pra todo canto. A situação estava uma loucura e o homem procurou o
padre novamente. Este o mandou retirar o bode de dentro da casa. Pronto, reinou
a paz.
Acontece que no caso em
questão, não posso retirar a Duda. Nem a Sissy. Nem a Maíra. E muito menos o
Zé. Ando aceitando sugestões...