Meus amigos no Havaí
Tenho um casal de amigos, João e
Maria, de setenta anos, que são animados, divertidos e distraidos. Há tempos
atrás, quando souberam que eu ia para o Havaí com minha filha, cismaram de ir
também. A Maria nunca tinha viajado para o exterior e o João visitou os States
uma única vez. De inglês, sabem apenas "I don⁾t speak english". Mas chegaram
em San Francisco sozinhos, alugaram um carrão, conheceram a cidade e comeram em
restaurantes sem saber muito bem o que estavam comendo. Atravessaram o vale do Napa,
na Califórnia, interpretando um mapinha e estacionaram na porta da casa da
minha filha, em Sacramento.
De
lá, saímos de madrugada em dois carros para Oakland, pegar o voo para Honolulu .
Como nem o João, nem a Maria e nem eu sabíamos usar o GPS do carrão alugado,
combinamos de ir atrás do carro do Chris, meu genro, que viajava com a esposa e
os dois filhinhos. O João foi a mil por hora, ziguezagueando na auto estrada de
oito pistas e milagrosamente conseguindo manter sua posição durante duas horas,
um motorista e tanto (mas, no Brasil, anda sempre cheio de multas).
Quando
chegamos a Oakland, outro desafio: o João teria que devolver o carrão alugado com
o tanque cheio. Paramos em um posto, mas nos States não tem frentista. Encher o
tanque é complicado e pagar também é. A filha nos socorreu e explicou
rapidamente ao João onde ele deveria devolver o carro (pensei: o João vai se
perder na imensidão do aeroporto). Continuamos grudados no carro do Chris, mas
o GPS ensinou a ele um caminho errado (daí, erramos também) e chegamos em cima
da hora do voo. O Chris foi estacionar o carro; o João foi devolver o carrão na
agência do aeroporto; a filha, os netinhos, eu e Maria, fomos fazer o check-
in. O Chris voltou, o João não. O alto falante anunciando: "última chamada
para Honolulu". Todos desesperados, a Maria quase tendo um enfarte. Sugeri
para a filha ir com a família e eu ficaria com eles. Depois de lágrimas e
relutâncias, saíram os quatro correndo e sobramos a Maria e eu. Passados uns minutos,
eis que o João chega esbaforido, descendo de um micro ônibus, rindo até as
orelhas, pensando que tinha voltado a tempo. A moça do guichê disse que a Maria
e eu ainda podíamos embarcar, mas o João ficaria, pois não tinha feito o check-
in. Mas deixar o João abandonado, sozinho, como ele chegaria ao Havaí? Ele insistiu para
irmos, disse que gostava de aventuras. Saímos correndo para pegar o voo. Na vistoria
da bagagem de mão, surrupiaram da Maria uma grande pasta dental e uns cremes. Depois
de muitos corredores, chegamos no embarque e o avião já tinha decolado.Alívio
porque o João não ficou sozinho e desespero porque talvez nunca fosse
encontrado. Mas encontramos e ele ficou feliz demais ao nos ver de volta.
Conseguimos
um voo para Los Angeles. Mais confusões: na checagem dos documentos, interceptaram
o João. Ele nem entendeu nada, mas mostrou a papelada toda (parece que o nome
na passagem saiu errado, daí pensaram que ele não era ele). Depois, seguimos
para Honolulu, cinco horas sobrevoando o Pacífico e a Maria pensando "o-que-que-tô-fazendo-aqui".
Chegando lá, mais drama: nossas bagagens foram no voo da minha filha. Ela
conhecia minha mala e a retirou. Mas a deles ficou rodando na esteira e sumiu.
Também sumiu o ticket das bagagens, quando o João foi interceptado e tirou tudo
o que tinha dos bolsos. Após muitos apuros, encontramos as duas malas.
Enfim,
chegamos para curtir merecidamente as belezas do Havaí. Como diz o ditado, "quem tem boca vai a Roma" ( no caso em questão,vai a
Honolulu).
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