A pequenina e doce Mel
Certo dia, estava eu na
esquina conversando com uma amiga. Aproximou-se um senhor baixinho e simpático,
perguntando se sabíamos onde era uma flora ali perto. Veio de ônibus de um
bairro distante e tinha esquecido o endereço, mas sabia que era por ali. Respondemos
que devia estar enganado, não havia flora por perto. Ele foi pegar o ônibus de
volta, lamentando o esquecimento.
Minha amiga comentou que
também é muito esquecida. Naquela mesma semana, tinha ido visitar a irmã no hospital.
Na saída, não encontrou seu carro. Procurou-o nas redondezas e concluiu que o
tinham roubado, ou a SETRAN o tinha guinchado. Desconsolada, voltava a pé
quando de repente, avistou seu carro, parado em uma rua onde nunca pensaria em procurá-lo. Ela o
estacionou lá e esqueceu!
Contei então o meu caso da
semana. Numa tarde, fui à padaria com a Mel, minha cachorrinha yorkshire, e amarrei-a
na gradinha ao lado da padaria. Fiz as compras e voltei. As 20:30h, chamei a
Mel para comer sua ração e ela não apareceu. De repente, como se um raio caísse
na minha cabeça, lembrei-me: eu a esqueci amarrada na padaria! Sai esbaforida e
não a encontrei, alguém a tinha levado! Perguntei na padaria e ninguém sabia de
nada. Fiquei com sentimento de culpa (lógico), tristeza, remorso, desespero.
Andei por vários quarteirões perguntando e colocando cartazes. Eu e o filho
entramos no facebook e nos sites de associações protetoras de animais, mandamos
a foto da Mel e pedido de ajuda (uma vez ela sumiu e foi encontrada assim). No
dia seguinte, fui à padaria ver se havia notícias. Conversei com o dono, o Beto
(nome fictício, para proteger o personagem) e ele contou-me que lá havia um
sistema de câmeras. Fomos assistir ao vídeo e por sorte, a Mel estava em um
lugar ótimo para ser filmada (ao menos isto, coitadinha). As 16:30h, lá estou eu
no vídeo, com minha sacola de pano, amarrando a Mel. As 16:40, saio da padaria
com a sacola cheia e passo direto pela Mel. A partir daí, ela deita, levanta, põe
a língua pra fora, espreguiça, abana o rabinho, coça, late, coça novamente,
tudo registrado minuto a minuto. Eu agoniada e o Beto falando o nome de todas
as pessoas que entram na padaria. As 17:30, ela continua lá. As 17:50 também. As
18:00h ela já desapareceu! Ele então volta o filme devagar e ficamos assistindo
como se fosse um filme policial, de mistério e suspense. Uma mulher magra, morena,
passa pra lá e pra cá, conversa com a Mel, olha pros lados. Falamos: foi ela.
Não foi. As 17:59 um homem alto, bem vestido, atravessa a rua, desata o nó e
carrega a Mel para uma lojinha na frente da padaria. Alívio geral, agora sabemos onde ela está. Fui à lojinha,
expliquei o acontecido e pedi a Mel de volta. Ela voltou de banho tomado e numa
alegria indescritível.
Até hoje sinto remorsos, mas
fico feliz de não ter esquecido um neto (são nove pequeninos, a chance é
grande). E me consolo ao pensar que isto não acontece só comigo. Ontem mesmo um
senhor perguntou-me onde era a rua Alexandre Marques. Eu disse que esta eu não
sabia, mas que a Eduardo Oliveira era a rua de trás. Ele falou que era essa
mesmo, tinha esquecido o nome. E hoje leio no jornal que uma americana, Dori
Rhoades, vendeu uma jaqueta usada e depois apareceu na TV, desesperada, pedindo
para que o comprador entrasse em contato com ela. No bolso da jaqueta, por
precaução, ela tinha guardado um par de brincos de brilhantes avaliados em 36
mil reais, e esqueceu! Meu Deus, onde vamos parar?
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