Já aceitei o
fato de que jamais vou obter algum lucro da minha fazendinha. Mas terei muitas
histórias para contar. Por exemplo, o caso do boi.
Tudo começou
quando precisei de um boi para cruzar com as vacas que comprei. São onze: sete
já prenhas, duas com bezerros e duas entrando no cio. Não seria possível fazer
inseminação artificial, pois é necessário curral adequado, com tronco, e lá não
tem (não tem nada, só problema). A vaca pode ficar muito brava e dar coices no
veterinário. Como as coisas andam, provavelmente isso iria acontecer. Além do
mais, eu queria conhecer o boi que seria o pai de todos os bezerrinhos da
fazenda. Saber se seriam parecidos com o
pai, de boa genética, etc. Inseminação artificial é muito vago, muito abstrato.
E como vaca não se reproduz por partenogênese, o encarregado e eu começamos a procurar um boi
bom e barato. Um absurdo o preço de um reprodutor: de R$15.000,00 a R$20.000,00
e sem P.O. ( registro que atesta qualidade). Por sorte, encontramos uma
fazendeira vizinha que precisava vender um boi. Grande, bonitão, orelhas bem
compridas, nelore, todo branco, com 3 anos. Negociei por R$8.500,00, pra pagar quando entregassem. Fiz uma votação
na família para escolher o nome: Araújo, Bumbá ou Sansão. Ganhou Araújo. No
entanto, a vizinha contou que ele já se chamava Diamante, era manso e atendia
pelo nome. Resolvi não trocar, para não causar confusão mental no Diamante. O
tempo foi passando e o boi não chegava. Avisaram que ele estava escondido no
pasto do vizinho e não estavam encontrando. Um mês e meio depois da negociação,
o Diamante chegou na minha fazendinha. Justo no dia primeiro de outubro, quando
eu lá estava, fiquei emocionada. Ele foi sendo tocado pela estrada por dois
cavaleiros e junto com duas vacas no cio. Sozinho ele não iria, de forma
alguma. Prenderam o Diamante no curral e tentaram colocar as minhas vacas com ele, para
irem se enturmando. Mas as vacas dispararam e ele ficou sozinho. E depois que
os cavaleiros foram embora, não tinha como buscar as vacas novamente, pois à pé
o encarregado não conseguiria, já que o bendito Canarinho, meu único cavalo,
tinha fugido pela oitava vez (ele passa debaixo de qualquer cerca). Apreciei o
Diamante, tirei fotos de todos os ângulos; e ele sozinho, bufando no curral. E,
não sei o porque, o encarregado abriu a porteira e soltou o Diamante, sem
nenhum tipo de adaptação ao novo ambiente. Ele saiu trotando majestoso, olhando
pra lá e pra cá, parou perto da casa da sede. Eu da varanda olhei nos olhos
dele, ele olhou nos meus. Depois , vagarosamente, virou a traseira para mim e,
balançando o rabo, entrou no pasto sujo, cheio de árvores e arbustos e
desapareceu. Ainda falei para o encarregado: _"Tião, este boi vai
sumir!". Ele argumentou que não,
que o boi iria procurar as vacas e o cocho d'água. Como meu conhecimento nesta
área é zero, acreditei. E não é que o boi sumiu mesmo? Desapareceu sem deixar
rastros. O pior é que , sem o Canarinho, como procurar o Diamante? Resolvi dar
uma recompensa para quem devolvesse o Canarinho. Colocamos a foto dos dois em
todos os grupos de whatsApp da região. Em dois dias, o Canarinho apareceu.
Paguei uma recompensa de R$300,00 .
Voltou de crina feita e com os cabelos da orelha aparados, bem bonitinho. O
encarregado montou nele e andou quatro dias procurando o Diamante. Com a graça
de Deus, foi encontrado, junto com vacas no cio, em uma fazenda ao lado. Parece
que pulou a cerca e tudo indicava que estava bem e feliz. Quando, em
Uberlândia, recebi a notícia que o Diamante tinha sido encontrado, fiquei em
êxtase e contei para todos que estavam torcendo para ele aparecer. Regozijo
geral. Mas a alegria durou pouco, apenas 3h. Recebi várias fotos do Diamante
morto, mortinho, caído no chão! E uma foto tétrica, com um furo perto do
pescoço, com sangue saindo (sangraram para ver se podiam depois aproveitar a
carne). Contaram que ele estava sendo tocado, junto com duas vacas paridas,
para o curral. De repente, ele começou a
tremer as pernas, caiu no chão, estrebuchou, virou os olhos e morreu!! Um filme
de terror. Consternação geral. Parece que teve um ataque cardíaco. Especulando-se
sobre a causa da morte, foram levantadas 5 hipóteses: estresse por ter deixado
as vacas no cio; excesso de ingestão de ureia com sal; paralisia respiratória
causada por botulismo; picada de cobra; ingestão de ervas venenosas seguida de
excesso de movimento, como corrida.
Analisando-se
os sintomas e as circunstâncias, a mais provável "causa mortis" é a ingestão
de ervas venenosas. Ou então o estresse. O Diamante mudou de fazenda, ficou perdido,
deve ter passado sede, foi arrancado dos seus amores (Jesus, será que o boi
morreu de paixão?). Descobri que boi pode morrer de estresse sim, tem boi bravo
que morre quando é amarrado ao tronco, sofre um ataque cardíaco. Enfim, lá se
foi o Diamante, não aproveitamos nem a carninha dele. E ainda fiquei
traumatizada e com pesadelos. Lembrei-me do Zé, meu finado marido: mandava para
o matadouro 50 bois de uma só vez e dormia feliz, sonhando com o dinheiro que
iria ganhar. Eu não, só faltou receber pêsames pela morte do boi...
Agora, não
quero mais comprar boi. Vou alugar algum quando precisar. E esperar o meu bezerro, o Príncipe Houdini,
crescer. Ele já está com um ano, saudável, bem adaptado na fazenda e
conseguindo escapar das inúmeras cobras venenosas que rastejam por lá. Quem
sabe algum dia nasçam lindos bezerros e eu possa falar: -"Parece com o pai"! A esperança é
a última que morre.