Na viagem pela
Europa, aconteceram vários momentos e cenas interessantes. Por exemplo, escolher as refeições era sempre uma confusão.
No grupo tinha vegetariano, carnívoro demais, celíaco, guloso, chato, todas as
nuances possíveis. Uns querendo pagar tudo e outros não querendo pagar nada. E
a situação piorava porque não entendíamos os cardápios, mesmo com o auxílio do
Google translation. Dentro deste contexto, em Freibourg, na Alemanha, entramos esfomeados
em uma lanchonete onde só falavam turco ou alemão. O único modo de escolher o
prato era sacudindo a cabeça, com sim ou não, de acordo com um atendente que
apontava, com uma varinha, em um cartaz, os tipos de pratos. Nada de tirar
isso, acrescentar aquilo. Comemos sem saber bem o que era, mas na hora da fome,
tudo é gostoso.
Outra cena
divertida aconteceu no charmoso bairro Soho, em Paris. A norinha e eu rimos muito quando passamos por
uma calçada onde saia, por uma tela, o ar do metrô. As nossas saias foram
levantadas, tipo aquela cena famosa do filme “ O pecado mora ao lado”, com a Marilyn
Monroe. Nos sentimos como ela. Depois ficamos por ali, rindo das outras
mulheres ...Também me diverti com a Maíra, minha neta, com sua bolsa preta de
correntes. Com quatorze anos, vaidosa e cheia de charme, saiu do Brasil com
tudo programado e pesquisado para comprar tal bolsa em Paris, na loja Zadig &
Voltaire. Sabia o endereço, o preço, economizou o dinheiro. De posse da bolsa,
exibia as mil e uma maneiras que podia jogar no corpo a corrente maior e a
menor. Fiquei temerosa dela acabar se enforcando. O irmão requebrava e a imitava,
era arrelia na certa!
Também com os
netos, na Alemanha, aconteceu uma cena pitoresca. Resolvemos alugar um carro
para visitar as cidades na região da Floresta Negra. Foi um espanto quando
descobrimos que a carteira de motorista do filho e da norinha estavam vencidas!
Assim a filha, com carteira válida, teria que dirigir um carro para nove
pessoas. Daí eu me candidatei, disse que tinha carteira também e poderia
dirigir outro carro. Perguntei: “Quem vai comigo?” E os quatro netos,
juntinhos: “Euuu!” Isso é que é apoio incondicional... A proposta não vingou,
mas senti-me realizada.
Outro momento
em que fiquei feliz demais foi no metrô de Paris. Todos nós apressados, cada um
puxando sua mala, subindo e descendo escadas rolantes, corredores a perder de
vista. De repente, uma escadaria normal que pareceu-me ter uns duzentos
degraus. Nunca que eu chegaria ao topo, com minha mala de 13 kg. Enquanto eu
olhava desanimada, um francês, que estava acabando de descer, ofereceu-me ajuda
e voltou, subindo com minha mala! Que Deus o abençoe sempre...Tem muita gente
boa neste mundo.
Até entrar em
supermercados era um aprendizado. Havia iguarias de todo tipo e os queijos era
uma tentação para nós, mineiros. O preço dos ovos das galinhas variava de
acordo com a felicidade das mesmas: quanto mais livres de gaiola, mais caros
eram. Li no rótulo de uma caixa de ovos que as matrizes eram originadas da
Patagônia e selecionadas geneticamente para produzirem ovos mais ricos, com
gema amarelo profundo. Pensei nos ovos das galinhas da minha fazendinha,
criadas livres, leves e soltas, comendo milho e minhocas. Valeriam ouro nos
supermercados de Paris...
Outra
experiência interessante foi andar de táxi em Londres, nos famosos “black
cabs”, espaçosos e onde as pessoas se sentam de frente umas para as outras. No
Reino Unido, o trânsito funciona do lado esquerdo. Temos a impressão de que vamos
colidir a qualquer hora e de que o motorista está do lado errado. E andando a pé,
via-se de tudo por lá. Por exemplo, na ponte do rio Tâmisa, um homem vestido de
Homem Aranha pedia esmolas. Pensei: a fantasia foi mal escolhida, jamais o
Homem Aranha, com sua valentia e super poderes, iria pedir esmola...
Também as visitas aos museus proporcionaram
emoções e encantamento. Por exemplo, no Museu da Ciência, em Londres, havia uma
vitrine com a foto famosa da menina vietnamita Kim Phúc. Nessa foto, que correu
o mundo em 1972, na época da guerra do Vietnã, ela estava com 9 anos e corria
nua, chorando de dor, com o corpo queimado por uma bomba de napalm lançada por
aviões sul-vietnamitas. Na vitrine, contava-se a história do fotógrafo, que ganhou
o prêmio Pulitzer, e da vida de Kim Phúc. Ela ficou 14 meses internada, passou
por 17 cirurgias, tem dores crônicas e cicatrizes imensas. Hoje ela vive no
Canadá, é avó e usa sua história para fazer palestras sobre perdão,
reconciliação e paz. Um exemplo emocionante de superação.
Já no Museu do Louvre, havia
muitos quadros de Nossa Senhora. Adorei um da Virgem Maria amamentando o Menino
Jesus com o seio direito. Ele, Jesus, vestido de rosa e coçando o pezinho. E
outro quadro com uma criança de cabelos anelados, estendendo uma roupa branca
para o Menino Jesus peladinho, nos braços de Maria. Que lindos momentos da
intimidade de Jesus e Maria estavam ali retratados!
Outro momento
importante foi quando, andando pelas ruas de Paris com o filho e o neto,
sentamos em um banco numa praça. Na frente, um prédio claro, simples, uma
escola pública. Uma porta grande e uma placa de cada lado. Em uma das placas
estava escrito que 260 crianças judias foram retiradas daquela escola na época
da Segunda Guerra Mundial e exterminadas nos campos de concentração nazista.
Termina com a frase: “Jamais esqueceremos”. Na outra placa, um agradecimento a
Joseph Migneret, diretor da escola, que por sua coragem salvou dezenas de
crianças judias da deportação. Meu Deus, pensar que naquele exato lugar,
naquela praça, tantas crianças foram arrastadas para a morte...Vontade de ficar
ali para sempre, rezando para elas...
Finalmente,
quando a viagem termina, a gente percebe que não ficaram apenas as lembranças, mas
também um pouco de cada lugar, de cada risada em família, de cada silêncio
diante de uma obra de arte. E que voltamos um pouco diferentes porque vimos a
vida por outras janelas.
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